24 de jun. de 2011

Sugestões: acesso a teses, dissertações, periódicos e livros

Hoje publico uma dica de três espaços interessantes para pesquisa. São três bancos de dados para acessar trabalhos, teses, periódicos, livros e artigos científicos.

O Portal é uma biblioteca virtual que reúne e disponibiliza a instituições de ensino e pesquisa no Brasil periódicos nacionais e internacionais.  São mais de 26 mil títulos com texto completo, 130 bases referenciais, além de livros, enciclopédias e obras de referência, normas técnicas, estatísticas e conteúdo audiovisual.
Pretende atender às demandas dos setores acadêmico, produtivo e governamental. Para ter acesso completo é preciso estar ou vinculado a uma instituição associada ou então consultá-lo na biblioteca de uma universidade. 

O Banco de Teses pretende propiciar o acesso a informações sobre teses e dissertações defendidas junto a programas de pós-graduação do país. No Banco reune teses e dissertações defendidas a partir de 1987.  A ferramenta permite a pesquisa por autor, título e palavras-chave.

O portal foi lançado em 2004 e coloca disposição uma biblioteca virtual  pretendendo ampliar o acesso às obras literárias, artísticas e científicas (na forma de textos, sons, imagens e vídeos), já em domínio público ou que tenham a sua divulgação devidamente autorizada. Nele é possível encontrar livros científicos, de literatura, literatura infantil, poesia, músicas, teses e dissertações e muitas outras coisas.

21 de jun. de 2011

Divulgando: site do professor Milton Santos

Divulgando interessante site organizado pela família do professor Milton Santos. No dia 24 de junho de 2011 farão 10 anos de sua morte. Sua geografia, no entanto, permanece mais viva e atual do que nunca.

"Este site foi feito e é mantido pela família de Milton Santos e tem como objetivo reunir informações e materiais que possam ser úteis a todos aqueles que se interessem pela obra de Milton Santos.
A quantidade de material a ser disponibilizada é bastante extensa, por isso a ideia é que haja uma atualização constante desse ambiente com cada vez mais informações".

Para acessar o site clique aqui

16 de jun. de 2011

Evento: I seminário de pesquisa sobre Juventudes e cidade

 O Núcleo de Pesquisa Geografia, Espaço e Ação, do Departamento de Geociências da UFJF (NuGEA/UFJF), junto ao PPGEO/UFJF, ao Departamento de Serviço Social do Pólo Universitário de Campos dos Goytacazes da UFF e ao curso de Geografia da UNESP/Presidente Prudente convidam para o I Seminário de Pesquisa sobre Juventudes e Cidade. O seminário tem como finalidade reunir pesquisadores de diferentes campos disciplinares, que tem como objeto de pesquisa a relação entre juventude e cidade.

O evento ocorrerá nos dia 06 e o7 de Outubro de 2011 no campus da Universidade Federal de Juiz de Fora, no auditório do  prédio novo do ICH, na cidade de Juiz de Fora/Minas Gerais.

Maiores informações pelo site www.ufjf.br/nugea ou pelo email nucleo.nugea@ufjf.edu.br

14 de jun. de 2011

Sugestão de site e de vídeo

No site da CPFL Cultura você encontra uma série de vídeos interessantes. Destaco aqui uma conversa com o professor Rogério Haesbaert sobre território, territorialização e desterritorialização. Vale a pena.


"Uma detalhada descrição do conceito de desterritorialização a partir de quatro perspectivas conceituais. As ideias de território e a multiterritorialidade como uma alternativa para a compreensão das complexas relações espaciais do mundo contemporâneo. A palestra faz parte do módulo “Geografia na contemporaneidade” de curadoria de Antonio Carlos Robert Moraes" (Fonte:http://www.cpflcultura.com.br)

Para acessar o site e a entrevista clique aqui

13 de jun. de 2011

Geógrafos: Jean Brunhes

Jean Brunhes
Geógrafo francês nascido em Toulouse, França em 1869. Em 1892 torna-se professor de História e Geografia. Sua maior obra - Geografia Humana - foi publicada em 1910. Morre em 1930.

"Escritor de grande densidade, Brunhes, reúne uma bibliografia em que se destavam os estudos das comunidades das áreas de clima semi-árido do Mediterrâneo, onde o papel de coesão do uso regulado da água é o centro de preocupação. Geografia Humana é o trabalho de cunho sistemático, no qual antecipa todo o debate ambiental atual, desde o problema do desmatamento ao da água, em suas vinculações com o processo de formação dos espaço"

(MOREIRA, Ruy. O pensamento geográfico brasileiro. V, 1. Sao Paulo: editora Contexto, 2009, p. 75)



Algumas das suas obras:

  • Michelet
  • "Les marmites du barrage de la Maigrauge"
  • La géographie humaine. Essai de classification positive. Principes et exemples
  • "Du caractère propre et du caractère complexe des faits de géographie humaine"
  • La géographie de l'histoire. Géographie de la paix et de la guerre sur terre et sur mer
  • La géographie humaine, Alcan, Paris, 1925, 2 tomes.
  • "Comment s'est faite la carte de France"
  • Races. Image du monde
  • L'irrigation. Ses conditions géographiques. Ses modes et son organisation dans les zones arides et désertiques de l'Espagne et du Nord de l'Afrique

Eventos: "Colóquio internacional Élisée Reclus e a Geografia do Novo Mundo.

DIVULGANDO: Dando continuidade aos colóquios realizados no mundo com motivo do centenário do falecimento do geógrafo anarquista francês Élisée Reclus e procurando gerar um espaço de reunião dos recentes esforços desenvolvidos nesta área de pesquisa no país, o Laboratório de Geografia Política do Departamento de Geografia da Universidade de São Paulo, visa por meio do presente projeto à realização nesta cidade entre os dias 6 e 10 de dezembro de 2011 do primeiro Colóquio Internacional “Élisée Reclus e a Geografia do Novo Mundo”, procurando, como complemento dos eventos precedentes, o avanço no reconhecimento dos trabalhos deste autor acerca do Brasil e da América Latina.

Mais informações clique aqui

12 de jun. de 2011

Lançado o primeiro número da Revista de Geografia do PPGEO/UFJF

Já está disponível on line o primeiro número da Revista de Geografia do PPGEO/UFJF.

A revista pode ser acessada clicando aqui.

Boa Leitura!!

11 de jun. de 2011

Entrevista com geógrafo: Prof. Maurício de Almeida Abreu (UFRJ)

 Entrevista publicada no caderno Prosa on line do Jornal O Globo.

Fonte: http://oglobo.globo.com/blogs/prosa/posts/2011/02/19/mauricio-de-abreu-fala-sobre-rio-dos-seculos-xvi-xvii-364125.asp

Mauricio de Abreu fala sobre o Rio dos séculos XVI e XVII

Nos 15 anos em que se dedicou, como quem monta o mais impossível quebra-cabeça, a reconstituir a feição assumida por um modesto povoado tropical entre os anos de 1502 e 1700, o geógrafo Mauricio de Almeida Abreu percorreu uma extensão milhares de vezes superior à de seu objeto de estudo. Da Cidade Nova ao Vaticano, passando por Lisboa e Paris, esse professor da UFRJ vasculhou arquivos e bibliotecas recolhendo um conjunto enorme e a princípio caótico de informações sobre os dois primeiros séculos de existência do Rio de Janeiro. Meticulosamente organizados e reunidos nas 912 páginas de “Geografia Histórica do Rio de Janeiro” (Andrea Jakobsson/Prefeitura do Rio), os dados formam um painel inédito em seus detalhes e abrangência da infância da cidade e seu entorno, examinando seu desenvolvimento, divisão de terras, economia e articulação com as rotas comerciais da época. Abreu conversou com O GLOBO sobre o livro, que será lançado segunda-feira às 19h num debate com o autor e os pesquisadores João Fragoso, Mariza de Carvalho Soares e Fania Fridman na Livraria da Travessa do Shopping Leblon. Segue abaixo a íntegra da entrevista, publica em versão editada no caderno deste sábado.
Quais são, em linhas gerais, as transformações do Rio no período estudado, e como elas determinaram os marcos temporais do seu trabalho?
Nossa análise abrange o período que se estende de 1502, ano em que surgem as primeiras informações sobre a baía de Guanabara, à virada do século XVII para o XVIII, quando a emergência das Minas Gerais provoca uma mudança substancial no espaço e na economia colonial brasileira. Como a cidade de São Sebastião só foi fundada em 1565, os primeiros capítulos tratam da luta pelo controle territorial da Guanabara, que lhe antecedeu. A virada do Seiscentos para o Setecentos, por sua vez, marca o ponto final do estudo, pois separa um lugar relativamente pobre e fundamentalmente canavieiro, uma capitania que não era mais que um território secundário no contexto colonial, de um Rio de Janeiro que ainda se manterá canavieiro, mas que agora vai se tornar também - e principalmente - um grande exportador de ouro e importador de escravos, articulador de fluxos comerciais outrora inimagináveis.
A geografia brasileira, em seu processo de construção acadêmica, exacerbou a "ditadura do presente" e o resultado disso foi que inúmeras questões importantes sobre o passado deixaram de ser feitas. Este trabalho vem contribuir para que essa postura seja rapidamente deixada para trás, mas o caminho a percorrer ainda é longo.
O principal objetivo deste livro é discutir o processo de produção do território que esteve sob a jurisdição da cidade e da capitania do Rio de Janeiro nos séculos XVI e XVII. Mais especificamente, o que se intenta é analisar criticamente o processo histórico de construção desse antigo espaço colonial, identificando suas forças propulsoras, seus principais agentes, os conflitos e contradições sociais que engendraram e sua expressão espacial. O que se pretende, em última instância, é realizar um grande esforço de análise e de síntese, que integre processo social e forma espacial e que dê sentido ao processo de formação de um lugar, no caso, o Rio de Janeiro colonial. A opção por um período dessa amplitude implica uma pesquisa muito longa, bem ao contrário de projetos que envolvem apenas alguns anos. Assim, nosso trabalho desdobrou-se por mais de quinze anos, com minuciosos mapeamentos e análises de dados inéditos na historiografia e na geografia histórica relativas ao Rio de Janeiro. Mas, confesso, foi difícil saber onde parar, até por que, inicialmente, a pesquisa se concentaria em outro período histórico, no século XIX, e o período colonial constituiria apenas uma introdução. Ao contrário do que se propagava, da destruição de quase todos os documentos relativos ao Rio de Janeiro do século XVII, no incêndio de 20 de julho de 1790, acabei conseguindo recuperar muitas pistas que me permitiram, em alguns pontos, introduzir novas leituras sobre esse período. Além da questão da delimitação histórica tive também que enfrentar alguns dilemas em termos da delimitação espacial, geográfica, inicialmente restrita ao atual espaço do município do Rio de Janeiro, mas que não fazia sentido para aquela época, e que acabou se estendendo para todo o entorno da baía de Guanabara, com algumas "incursões" pelas capitanias vizinhas, como a de Cabo Frio, que acabava em grande parte subordinada à do Rio de Janeiro.


Quais foram as fontes mais importantes para seu trabalho?

As mais importantes fontes utilizadas na elaboração deste trabalho foram os antigos livros de notas dos cartórios do Rio de Janeiro, que estavam guardados no Arquivo Nacional. Num período de dez anos, incluídas as interrupções, pude ler e fichar todos os livros de escrituras dos cartórios de notas fluminenses ainda existentes (muitos tinham se perdido ou estavam fora de consulta), esforço que envolveu o levantamento de aproximadamente 500 livros cartoriais e exigiu a leitura de dezenas de milhares de escrituras. Inicialmente foi difícil ter acesso à documentação cartorial, que é interditada, pois está em péssimo estado de conservação, mas em 1998-99, sobretudo, eu consegui autorização para ter acesso à documentação, numa sala especial. Também utilizei o Arquivo da Cidade, que foi muito afetado pelo incêndio de 1790, mas onde ainda há documentação colonial. Quero destacar que, embora este livro se refira aos séculos XVI e XVII, o levantamento cobriu todo o período colonial, até 1822. Enquanto os livros de escrituras do Arquivo Nacional iam sendo levantados, uma outra decisão, de igual importância, foi tomada: investigar o que havia nas caixas dos chamados "documentos avulsos" da capitania do Rio de Janeiro no Arquivo Histórico Ultramarino, em Portugal. Em 1995, quando lá cheguei, existiam mais de duas centenas de caixas sem qualquer catalogação. Trabalhei ainda em vários outros arquivos, como o Arquivo da Companhia de Jesus, no Vaticano, e também em varias bibliotecas onde tive acesso a obras raras indispensáveis à elaboração do trabalho, como a Biblioteca Nacional, em Paris. Foi um verdadeiro quebra-cabeças, mas muitas informações puderam ser recuperadas. Descobri que era possível entrar nesse passado distante, especialmente o Rio de Janeiro do século XVII, a partir de informações dispersas nos diversos fundos documentais que precisavam, de certa forma, serem colocadas juntas, porque elas acabavam se encaixando. Posso garantir que muita coisa não consegui fazer, é claro, mas muita coisa que eu não imaginava fazer, logrei fazê-lo com bastante sucesso, sobretudo no caso da identificação e da caracterização do mundo açucareiro fluminense, que é uma das maiores contribuições deste trabalho.
Ao lado das fontes escritas outro aspecto importante foi o levantamento da iconografia de época e posterior relativa ao período e tema estudados. Mapas e obras artísticas foram cuidadosamente catalogadas ao longo dos anos e puderam, depois de grande esforço editorial no sentido de conseguir todas as autorizações necessárias, constar da presente edição. Gráficos e mapas da distribuição dos engenhos elaborados ao longo da pesquisa constituem ainda um componente básico do trabalho que servirá de fonte para outros pesquisadores interessados no tema.

Seu texto consolida informações dispersas e revela muitos dados novos sobre o Rio dos séculos XVI e XVII. Quais o senhor destacaria como mais relevantes?
É difícil resumir em poucas linhas as contribuições do trabalho. Tentarei comentar algumas delas. Começando pelo século XVI, a capitania do Rio de Janeiro, incrustrada na capitania de São Vicente, é uma capitania muito pequena, mas singular: a partir de sua consolidação como cidade por Mem de Sá, em torno do Morro do Castelo, em 1567, o "Termo da Cidade de São Sebastião" coincidia com a capitania, um entorno de cerca de 40 quilômetros continente a dentro, território sobre o qual a cidade tem jurisdição. Espaço restrito, mas singular: desde o início o Rio de Janeiro é uma cidade real. No livro apresento um debate sobre a indenização requerida no século XVII pelos herdeiros de Martim Afonso de Souza, capitão de São Vicente, capitania à qual o Rio de Janeiro deveria pertencer, que reivindicavam esse pedacinho de terra que a Coroa tomara para si. É uma discussão que até hoje não vi sendo discutida, porque na verdade a capitania era de Martim Afonso, e quem tinha que defendê-la, especialmente dos franceses, era ele, o capitão... e ele não o fez. Coube à Coroa recuperar esse território e há um "imbróglio" nessa época sobre se aquilo foi uma re-apropriação ou uma espoliação. Assim, o Rio de Janeiro nos séculos XVI e XVII já começa como uma cidade real, em que o donatário não tem ingerência, em que os governadores são determinados pela Coroa. Aos poucos, nessa condição, ela passou a ser utilizada também como base da administração direta colonial, com a repartição, ainda no século XVI, do governo colonial em dois, o do Norte, sob o comando de Salvador, e o do Sul, de forma efêmera e temporária exercido pelo Rio de Janeiro. 
Sobre a "França Antártica", a presença francesa no Rio de Janeiro, não apresento propriamente uma leitura nova, pois utilizei as fontes já existentes, mas o enfoque é inovador, penso, na medida em que me preocupei em detalhar a análise da organização espacial do território, que não é frequente entre os historiadores que abordaram o tema.
Na segunda parte do livro, "A apropriação do território e a formação da sociedade colonial: agentes, ritmos e conflitos", enfoco a apropriação através do sistema sesmarial, que desconsiderava completamente a presença dos indígenas. Foi a transferência para o Brasil da forma como se deu o domínio do sul de Portugal no período da reconquista cristã, mas que aqui sofreu modificações. Aqui havia "sesmarias de terras", dadas aos "sesmeiros" (em Portugal sesmeiro era quem concedia a terra), para a produção agrícola, e "sesmarias de chão", os chãos dados para a construção de vilas e cidades - e sobre essas é que temos pouca informação, mas que este trabalho conseguiu trazer algumas novidades. Aqui, as sesmarias foram doadas à própria Cidade, enquanto pessoa jurídica, às corporações municipais e religiosas (jesuítas, beneditinos, carmelitas...). Começam aí, também, os conflitos de apropriação.
Também há informações novas sobre os engenhos que tinham papel fundamental para a economia da cidade. Qual era a extensão da economia do açúcar no Rio?
Uma das principais contribuições do trabalho é em relação ao Rio de Janeiro açucareiro do século XVII, sobre o qual se sabe muito pouco. Nesse ponto o livro traz muita informação nova. Porque até hoje sabe-se que o Rio de Janeiro exportava açúcar e que não era tão grande exportador como a Bahia ou Pernambuco antes da conquista holandesa. Mas não sabíamos nada, ou quase nada, sobre quem eram, onde se situavam e quantos engenhos existiam, que força de trabalho utilizavam, enfim, informações sobre essa economia açucareira que não foi desprezível, ao contrário. Depois de um trabalho intenso no arquivo dos jesuítas, no Vaticano, em 1999, consegui identificar mais de 161 engenhos no Rio de Janeiro do século XVII. Mapas inéditos estão no livro. A partir dessas informações fiz algumas análises, que são novas, do tamanho dos engenhos. Pude corroborar a hipótese sobre a grande crise econômica do século XVII, século de crise na Europa, de que aqui, por um certo grau de autonomia da economia colonial frente à conjuntura mundial, não houve essa repercussão toda. A melhor prova é que, ainda que não fossem grandes engenhos, o número de engenhos no Rio de Janeiro não parou de crescer ao longo do século XVII. Além de nomear quase que um a um esses engenhos, pude também localizar com bastante aproximação onde se encontravam. Consegui ver que o Rio de Janeiro açucareiro era sobretudo o que hoje chamamos Irajá, São João de Mereti, Deodoro, Realengo e, sobretudo, São Gonçalo. Descobri também a localização do "Porto dos Franceses", na "banda d'além" (atuais Niterói e São Gonçalo), que provavelmente foi a área onde alguns franceses permaneceram depois da derrota da França Antártica para Portugal.

Em que a medida a própria geografia da cidade foi transformada nesse período?

Para trabalhar com a geografia urbana, tivemos de trabalhar com as sesmarias de chãos, cujas informações são quase totalmente inexistentes. Então para trabalhar com a cidade original sobre o Morro, mais tarde chamado do Castelo, foi necessário trabalhar com muito poucas fontes documentais. Mas consegui recuperar o que deveria ser a forma urbana original e o retalhamento territorial original no alto desse outeiro. Na realidade eu não consegui fazer um mapeamento final, único, porque a documentação é tão carente que cheguei à conclusão de que a cidade poderia ter três formas, sobretudo quando se trata do muro. A cidade era murada, no alto do morro. Mas produzi três mapas conjecturais: num há um muro contínuo, no outro um muro apenas aberto em uma parte, em outro, aberto em duas partes. Descobri a existência de uma porta e a localizei. Descobri também, com a ajuda de um professor português, o que era o "trasto" da cidade - uma palavra que ninguém ouvira falar, nem no Brasil, nem em Portugal. Na pouca documentação existente ainda aparece nove vezes. Descobrimos que era uma área de derrubada de mata - o morro era todo florestado - na base, no sopé do morro. Todo o sopé do morro foi desbastado da vegetação original para que pudesse ser melhor controlado lá do alto. Na realidade essa palavra não existe em português, é um neologismo. Segundo o professor Rafael Moreira é uma mistura de uma palavra italiana chamada "guasto", que virou "trausto", enfim, que é introduzida por engenheiros militares portugueses que estudaram na Itália à época de Dom Sebastião e que, para "falar difícil", como dizia o referido professor, começaram a introduzir palavras novas e a chamar o "trauto"de trasto, que seria a junção dos termos português e italiano. 
O senhor afirma que a cidade se expandiu antes e de modo mais organizado do que se pensava. Poderia falar sobre isso?
Como o mapeamento e a discussão que é feita sobre a expansão da cidade em direção à várzea, provo que estão errados todos aqueles que falam que o Rio de Janeiro ficou em cima do morro durante todo o século XVI. A cidade ocupa a várzea. A cidade baixa, ela é praticamente concomitante à ocupação da cidade alta. E já há conflitos nessa cidade baixa desde o início. Nesta parte faço uma discussão sobretudo com os arquitetos que têm trabalhado com morfologia urbana. Provo com vários documentos como as ruas foram abertas com critério, com medição, com cordeamento, com lavragem de documentos cartoriais. Ou seja, a ideia de que a cidade portuguesa se enlaça na paisagem e que não tem método algum, que vem do "Raízes do Brasil", de Sérgio Buarque de Hollanda, não se aplica. O próprio Sérgio Buarque de Hollanda neste capítulo de seu livro diz que isso não se aplica ao Rio de Janeiro. Mas essa ideia acabou sendo generalizada para a cidade colonial portuguesa no Brasil. Mas Sérgio Buarque de Hollanda está falando dos arraiais, dessas cidades do interior, não das cidades reais. Salvador tem um plano extremamente regular. E regular não é sinônimo de ortogonalidade. Isso é importante também. Você pode ter um plano regular sem ser ortogonal e é o que ocorria nas cidades brasileiras, muitas das quais tiveram planos triangulares, como São Paulo, Piratininga e Vitória. E o Morro do Castelo. O plano lá em cima deste outeiro acabou sendo triangular.
O que a identificação dos donos das residências da cidade, feita pelo senhor, mostra de novo sobre a sociedade carioca daquela época?
Outra inovação do trabalho em termos de geografia urbana foi mostrar onde ficavam as residências urbanas dos senhores de engenho cristãos-novos. Já há importantes trabalhos sobre os cristãos-novos e judeus no Rio de Janeiro, mas pouco abordando essa perspectiva geográfica. Já se sabia que eles estavam concentrados em duas áreas produtoras de açúcar, Irajá e São Gonçalo. Mas não se sabia onde tinham suas residências urbanas nesse período. Pois descobri a provável estratégia de proximidade que essas famílias utilizavam em suas residências, tanto no campo quanto na cidade. Ao contrário de alguns autores, que falam da mistura de usos e classes sociais na cidade colonial, percebe-se claramente que no Rio de Janeiro dos séculos XVI e XVII não é bem assim.
Que dados desmentem essa crença na mistura de diferentes classes no espaço urbano do Rio no período?
Por exemplo, os senhores de engenho têm casas em toda a cidade na área urbana, que é pequena. Porém, eles estão predominantemente no setor Sul da cidade (consegui dividir a cidade em setores norte e sul). Muito menos no setor Norte. E os artesãos? Os oficiais mecânicos? Eles estão na cidade toda, também, mas estão predominantemente no setor Norte. Alguns usos estão concentrados em setores e eu chego à conclusão de que, na realidade, inclusive os ofícios mecânicos, os - vamos dizer assim, os ofícios de maior status - ourives, alfaiates - estão mais em certas áreas do que em outras, o que mostra que o Rio de Janeiro, apesar de ser muito pequeno (fisicamente) - no final do século XVII não atinge nem a rua Uruguaiana atual - , era uma cidade, não em que tudo se misturasse, mas em que as classes mais poderosas, inclusive artesanais, estavam concentradas, enquanto outras estavam menos concentradas.

De que maneira se deu o processo de conquista da região, especialmente na relação dos portugueses com os povos indígenas?
Esta é uma relação complexa, que se dá em ritmos diferentes ao longo do tempo e segundo a região e os grupos indígenas envolvidos. O lado ocidental da baía de Guanabara, por exemplo, onde a cidade foi instalada, foi o primeiro espaço onde os índios foram rapidamente expulsos ou dizimados ou aculturados em aldeamentos. Em compensação, eles permaneceram por mais tempo na "Band'Além" (atuais municípios de Niterói e São Gonçalo) e na área de Cabo Frio - onde representava um risco o apoio dos tamoios aos franceses - que, não podemos esquecer, também com apoio indígena, permaneceram por 5 anos (1555-1560) em seu malogrado projeto da "França Antártica" na baía de Guanabara. A apropriação se dava lentamente na segunda metade do século XVI até que, em 1575, os índios tamoios foram dizimados e expulsos em Cabo Frio, num verdadeiro genocídio. Outra resistência importante, a dos goitacás, mais ao norte, só foi definitivamente dominada na segunda e terceira décadas do século XVII, e com fortes indícios de envolver também a difusão de epidemia. O povoamento seguia especialmente os vales fluviais, em direção à serra, já que o grande meio de locomoção era o mar e os rios. Assim como deram suporte aos franceses, os aldeamentos indígenas também tiveram importante papel auxiliando os portugueses na defesa do território, na "retaguarda" da Guanabara, de Cabo Frio à baía de Ilha Grande. Não se pode esquecer que os indígenas também eram dominados e utilizados como mão-de-obra escrava. Mesmo sem muita informação, reunindo várias informações dispersas, foi possível reconhecer que, no Rio de Janeiro, a escravidão é predominantemente indígena no século XVI, mas já no século XVII começa a escravidão negra, africana, que acaba se impondo na segunda metade daquele século. Isso vai contra algumas interpretações que dizem que o Rio de Janeiro do século XVII ainda era baseado em força de trabalho majoritariamente indígena.

Que fatores impulsionaram a expansão da cidade nesse período? Quais foram os principais grupos responsáveis por esse processo, e quais os conflitos surgidos entre eles?
Como já destacamos, conflitos de apropriação na cidade do Rio de Janeiro começaram com a própria doação de sesmarias ("sesmarias de chão", para uso urbano), entre sesmeiros, jesuítas e a Câmara, enquanto corporação municipal, mas também entre as diversas ordens religiosas que também recebiam terras. Dentre eles o mais importante foi, sem dúvida, aquele entre a Companhia de Jesus e a municipalidade, desde que Estácio de Sá doou à municipalidade terras que se sobrepunham às que já havia doado aos jesuítas. As primeiras sesmarias são dadas ainda pelo Capitão de São Vicente, antes da conquista, que depois são anuladas, provavelmente - pois não há documentos sobre isso. Há conflitos, portanto, com São Vicente, cujos donatários jamais abdicaram do direito que originalmente tinham sobre as terras que constituíam a capitania real. É depois da cidade fundada, no sítio original de Estácio de Sá, no sopé do Pão de Açúcar, que toda a área que margeia a baía de Guanabara, ou grande parte dela, é doada - mesmo que não pudesse ainda ser ocupada, pois os indígenas estavam lá - e, em determinado momento, com alguns franceses a lhes ajudar... A apropriação formal ou "de jure", que continha muitas imprecisões de limites e rumos, entra em conflito com a apropriação real, efetiva. Em algumas áreas, como os vales com cursos d'água, a ocupação é mais rápida, em outras é muito mais lenta. Temos notícias de conflitos em 1573, em 1574. Na década de 1570 já começam conflitos de apropriação entre sesmeiros, entre a Câmara e sesmeiros, na passagem para o século XVII entre a Câmara e os jesuítas. Acompanhar a ocupação do território é acompanhar, obrigatoriamente, os conflitos que decorrem desse processo. Esses conflitos têm um papel importante para o pesquisador, pois geraram muitos documentos: muita reclamação foi enviada para Lisboa, muita coisa foi escrita em cartório e, mesmo muitos documentos tendo desaparecido, outros ficaram. E eles trazem também informações sobre o território, muita coisa é explicada sobre a demarcação de terras, topônimos utilizados, tipo de organização agrária.

Como o Rio se inseria nas rotas comerciais do império português, e que outras relações econômicas relevantes a cidade possuía?
Toda a parte III do livro, com quase 200 páginas, refere-se a "O Rio de Janeiro e o sistema atlântico" onde é analisada a inserção do Rio de Janeiro na economia-mundo, com a importância, especialmente, da economia açucareira e seus desdobramentos. Após um breve período em que, a exemplo de outras áreas litorâneas, o Rio de Janeiro se engajou na extração e comércio do pau-brasil, iniciou-se a atividade canavieira, embora, pela maior distância da metrópole e pelos problemas de transporte, coubesse ao Rio uma condição secundária em relação às "capitanias de cima", muito mais privilegiadas nesses aspectos. Outro comércio fundamental no final do século XVI foi com o Prata, quando o Rio passou a prover Buenos Aires e os interesses contrabandistas de Potosí de mercadorias europeias e de escravos africanos. De lá recebia sobretudo charque e trigo e muitos recursos que acabaram sendo investidos na cidade. Mesmo com a proibição oficial do comércio com o Brasil, em 1594, o contrabando era intenso, comandado especialmente por portugueses cristãos-novos. Durante certo tempo, especialmente nas quatro primeiras décadas do século XVII, o Rio de Janeiro ocupou um lugar excepcional no tráfico negreiro entre Angola e Buenos Aires, ajudando a acobertar sua própria ilegalidade e estabelecendo um ativo comércio triangular no Atlântico Sul. Viria logo depois, entretanto, a desestruturação dessa rede de contrabando, especialmente com a fundação da Companhia das Índias Ocidentais pelos holandeses, que atacaram o comércio português e invadiram a Bahia, em 1624, Pernambuco, em 1630 e Luanda, em 1641. Luanda foi retomada em 1648, mas nunca mais o tráfico com Buenos Aires voltou a ser o mesmo. A esses efeitos negativos veio se somar, finalmente, o impacto da entrada das Antilhas no mercado do açúcar, a instituição do sistema de frotas na Colônia e as perdas materiais e humanas causadas por intempéries e epidemias. Com a falta de numerário, até o açúcar passou a servir de moeda durante algum tempo. A cidade só voltaria ao dinamismo do segundo quartel do século XVII com a descoberta do ouro nas Minas Gerais. Mas esta já é uma outra história...

Como o comércio de açúcar transformava a vida na cidade?

Eu concluo o livro comentando documentos riquíssimos, três cartas enviadas pelo monge beneditino Mauro da Assunção, filho do negociante Francisco Frade, em 1669, ao príncipe D. Pedro, que há pouco assumira o trono com o afastamento do rei D. Afonso VI. Ali aparece claramente como a cidade do Rio de Janeiro do século XVII dependia do comércio açucareiro e via o seu cotidiano profundamente modificado com a chegada das frotas de navios que comercializavam o açúcar. Era quase como se se desenhassem, durante o ano, duas cidades: aquela marcada pelo ritmo pacato das atividades militares, artesanais e comerciais rotineiras, e a cidade agitada, quase turbulenta, do período - algumas semanas - em que as frotas permaneciam na cidade. A vida da cidade, assim, era regulada pela chegada anual da frota de navios que vinha de Portugal. Os navios geralmente chegavam em maio e partiam para a Bahia em julho, para se incorporarem ao restante da armada. Seu objetivo principal era levar o açúcar em segurança para o reino. Mas era também uma ocasião de chegada de novas mercadorias, movimento de pessoas, cartas, noticias. Como o açúcar não tinha valor enquanto a frota não chegasse e houve ano em que não veio , os negociantes da terra adiavam a compra junto aos produtores o mais que podiam, e quando o faziam, era por preço tão baixo, que as receitas pouco compensavam os esforços despendidos na produção. A chegada da frota alterava o quotidiano da cidade e da capitania de forma radical. Como a navegação era governada pelo sistema de ventos predominantes, os navios não podiam se demorar muito no Rio, sob risco de terem de permanecer aí o restante do ano. Por isso, tão logo fundeavam os barcos, o governador lançava bandos pelas ruas da cidade, determinando prazo para o apresto e partida da frota. Esse era um momento único. Nas poucas semanas de permanência da frota, as áreas rurais se agitavam com os preparativos finais do transporte da produção açucareira e a pequena urbe se eletrizava com o frisson que invadia seu pacato quotidiano e alterava seus ritmos de vida. Havia, com efeito, que fazer muita coisa e com rapidez. Em primeiro lugar, os navios precisavam ser reparados e abastecidos para a viagem de volta, daí porque era necessário acelerar o ritmo de trabalho de calafates, cordoeiros, carpinteiros da ribeira, tanoeiros, serralheiros, ferreiros, caldeireiros e outros tantos artesãos; o mesmo acontecia com o uso da força de trabalho escrava, tanto dos cativos que labutavam nas tendas dos oficiais mecânicos urbanos, como daqueles que operacionalizavam as etapas de transporte e embarque da produção. Enquanto isso, a azáfama era grande nos cartórios da cidade, aos quais afluíam todos aqueles que precisavam fazer procurações a terceiros ou lavrar documentos a serem remetidos com a frota. Os controles urbanos também se intensificavam. Com tantos homens do mar circulando pelas ruas, esse era um período em que os distúrbios públicos aumentavam, assim como a vigilância e a repressão por parte das autoridades. Com a partida dos navios para Portugal, a cidade e seu termo voltavam ao seu ritmo costumeiro, marcado, de um lado, pelas atividades urbanas tradicionais e, de outro, pela atividade canavieira, que dava sustentação econômica à capitania desde o seu início e que era complementada por uma produção alimentar crescente. Como a próxima safra já estava em andamento, não havia tempo para descanso, pois urgia dar prosseguimento aos trabalhos iniciados e torcer para que a próxima colheita fosse aquinhoada com bons tempos e protegida de pragas e de epidemias.

Uma homenagem ao mestre...

Estive lá ontem para me despedir de meu professor, do meu mestre. Com Mauricio aprendi muitas coisas. A tristeza é pela perda de um homem jovem, de um professor que ainda tanto tinha para nos dar. Sua cerimônia foi bonita. Foi bonito ver todos lá, colegas de geografia, pesquisadores de seu laboratório, alunos e ex-alunos (muitos deles hoje professores em universidades federais), amigos, familiares. Todos lá juntos de um homem que soube, ao longo de sua vida, aglutinar, somar. Maurício era um homem inteligente, culto, refinado, tranquilo no trato. Maurício era o verdadeiro sentido das palavras professor e mestre. Ontem Maurício se foi (seu corpo, sua matéria. Era mesmo a hora de descansar após uma difícil e longa jornada) mas ele vive em cada um dos seus alunos e amigos. Sua geografia está aí para ser vista, lida e ensinada. Assim eu faço. Em minhas salas de aula homenageio meu professor.

Aqui, neste blog replico resenha de seu último trabalho em texto originalmente publicado na Geocrítica. E não deixem de conhecer um pouco de sua geografia. No menu ao lado há alguns links para seus trabalhos. E ao final dessa postagem uma rica bibliografia de sua obra. Boa leitura!

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ABREU, Mauricio de Almeida. Geografia Histórica do Rio de Janeiro (1502-1700), 2 vols. Rio de Janeiro: Andrea Jakobsson Estúdio & Prefeitura do Município do Rio de Janeiro, 2010, 420 p. + 484 p.; il. color. ISBN: 978-85-88742-45-1 (vol. 1); ISBN: 978-85-88742-46-8 (vol. 2)



Francisco Roque de Oliveira
Centro de Estudos Geográficos, Universidade de Lisboa
f.oliveira@campus.ul.pt


Recibido: 15 de abril de 2011. Aceptado: 30 de abril de 2011


Palavras-chave: Geografia Histórica, Rio de Janeiro, cidades coloniais portuguesas, séculos XVI e XVII

Key words: Historical Geography, Rio de Janeiro, Portuguese colonial cities, 16th and 17th centuries



A oficina do geógrafo

Mais de quatro décadas dedicadas à investigação académica e à Geografia aplicada ao planeamento urbano e regional fazem de Mauricio de Almeida Abreu um dos mais completos e originais geógrafos brasileiros da sua geração. Apesar da variedade de interesses que têm preenchido o seu percurso intelectual, arriscamos fixar duas constantes ao longo de todos estes anos. Por um lado, uma clara preferência pelo estudo das cidades, de que o livro que hoje recenseamos constitui apenas o exemplo mais recente. Por outro lado, o permanente exercício de uma reflexão crítica sobre as várias agendas teóricas e metodológicas que têm ocupado a ciência geográfica desde que esta superou a matriz hegemónica da Escola Francesa, facto acompanhado por uma consciência muito aguda sobre a necessidade de harmonizar a aparelhagem conceptual com as particularidades de cada objecto de estudo seleccionado: como o próprio lembra amiúde, é tão equívoco tratar o empírico sem bagagem teórica, como forçá-lo a uma qualquer moldura epistemológica definida de antemão[1].

Licenciado em Geografia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, Mauricio Abreu reconhece no magistério e nas principais publicações produzidas na década de 1960 por Maria Therezinha de Segadas Soares a génese do seu interesse duradouro pela Geografia Urbana[2]. Sintomaticamente, “As causas do crescimento urbano recente de Itaboarí-Venda das Pedras” (1970), constituirá o seu artigo de estreia[3]. Escrito em parceria com Maria do Socorro Diniz, este texto partia já do renovado modelo de trabalho que a Associação de Geógrafos Brasileiros ia difundindo em substituição da monografia urbana tradicional de modo a integrar questões como a da área de influência da cidade[4]. Pela mesma época, Abreu estagia no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), onde participa na realização de estudos de desenvolvimento urbano e regional que ensaiavam a transposição da teoria dos pólos de crescimento formalizada por economistas como François Perroux no contexto europeu pós-1945 para o cenário do Nordeste do país[5]. Entre 1970 e 1979, esteve vinculado ao Centro de Pesquisas Urbanas do Instituto Brasileiro de Administração Municipal (IBAM), instituição privada para a qual realizou estudos como “A geografia e os problemas urbanos” (1970)[6] e o livro Sistema Urbano de Conservação do Meio Ambiente (1971)[7] – pesquisas que tanto confirmavam a sua atenção às questões de planeamento urbano, como abriam à temática ainda embrionária dos problemas ambientais. Com o patrocínio do IBAM e da Fundação Ford, realiza uma estada de cinco anos na Ohio State University, num dos departamentos de Geografia mais neo-positivistas dos Estados Unidos[8], onde obtém o mestrado (1973) e o doutoramento (1976) enquanto lecciona World Regional Geography a alunos de licenciatura. Na sua tese de mestrado, Abreu tratará do desenvolvimento regional no Brasil, sendo a tese de doutoramento sobre migrações e absorção de força de trabalho migrante e não-migrante nas áreas metropolitanas do Rio de Janeiro e de São Paulo[9].     

Entre os primeiros estudos que Mauricio Abreu foi incumbido de realizar para o IBAM uma vez regressado ao Brasil contou-se um trabalho sobre a distribuição da população à escala metropolitana que ambicionava definir o “modelo metropolitano” surgido no país. O ponto de partida para esta pesquisa, muito devedor do paradigma crítico cultivado em Social justice and the city de David Harvey e La question urbaine de Manuel Castells, interrogava o impacto das políticas públicas no processo de estruturação interna das cidades – e, em concreto, no processo de segregação urbana na área metropolitana do Rio. Desta pesquisa resultou o importante livro Evolução Urbana do Rio de Janeiro, escrito em 1978, mas que apenas teve a sua primeira edição em 1987[10]. Ora, para além do tratamento das questões de relegação espacial a partir da análise dos mecanismos de decisão e dos jogos de poder[11], a realização desta pesquisa mobilizou o autor para uma investigação alargada sobre os fundamentos históricos do processo de produção do espaço urbano carioca.

Tal constituiu a génese da sua transformação em geógrafo urbano histórico, algo que Mauricio Abreu tem datado do início da década de 1980, coincidindo com o seu ingresso no Instituto de Geociências da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e no preciso momento em que intuiu que apenas uma investigação fundada na pesquisa de fontes primárias permitiria sustentar as considerações gerais expostas na versão preliminar desse trabalho. A partir daí, vemo-lo afastar-se progressivamente do tratamento das questões associadas à cidade actual, para abraçar os grandes temas da segregação física e social caros à Geografia Histórica contemporânea[12]. A escala temporal também vem sendo dilatada. Assim, tendo começado por centrar a sua atenção no Rio de Janeiro do século XIX, Abreu investiga hoje os primórdios da cidade colonial, na primeira metade do século XVI. A Geografia Histórica do Rio de Janeiro confirma-nos esta verticalização gradual dos seus inquéritos, a qual foi entretanto amparada pela formação do Núcleo de Pesquisas de Geografia Histórica da UFRJ, coordenado pelo próprio[13].

Oficiante de um campo de estudos minoritário na Geografia de qualquer parte do mundo, Mauricio de Almeida Abreu conhece bem as dificuldades que uma aproximação retrospectiva ao espaço tem que enfrentar num meio académico que parece ter herdado do século XIX uma necessidade de demarcação face à História, quando não uma aversão pela própria dimensão temporal dos fenómenos, que se traduz numa indiferença recorrente pelas análises que não privilegiam o presente e as formas geográficas actuais. Pelo mesmo motivo, sabe também que a generalidade daqueles que se aventuram no terreno híbrido da Geografia Histórica valorizam a reconstituição das formas morfológicas, desatendendo, em contrapartida, os processos e normas sociais, jurídicas e culturais que estão na sua génese. No domínio específico da Geografia Urbana histórica, esta propensão tende a traduzir-se em estudos focados naqueles aspectos que permitem recuperar os traços de paisagem entretanto desaparecidos: evolução dos planos das cidades, conversão do solo rural em solo urbano, loteamento e suas escalas, sistema viário, muralhas, edificações ou a marcação das antigas linhas de litoral, para citar apenas os mais trabalhados[14]. Face a isto, a proposta que Abreu subscreve, visando analisar as “formas não espaciais que dão conteúdo às morfologias” (vol. 1, p. 19), não apenas alarga a interpretação sobre a memória da cidade eleita pela pesquisa, como resulta na opção metodológica mais ajustada para concretizar comparações pertinentes nos domínios da história social e urbana do período colonial[15].

O processo de produção do território que esteve sob jurisdição da cidade e da capitania do Rio de Janeiro nos séculos XVI e XVII define o ambicioso objecto das mais de 900 páginas de Geografia Histórica do Rio de Janeiro (1502-1700). O intervalo cronológico considerado para este livro estende-se entre o momento em que aparecem as primeiras informações sobre a baía de Guanabara e a transição do século XVII para o século XVIII, quando a cidade que fora fundada em 1565 adquiriu uma centralidade indiscutível no contexto do espaço e da economia colonial brasileira, em consequência dos fluxos de ouro e escravos que a passaram a cruzar por efeito da emergência de Minas Gerais. O ajuste gradual da escala abrangida pelo estudo – que começou por se restringir ao actual território municipal do Rio de Janeiro, mas terminou por abranger toda a antiga capitania fluminense – traduz uma preocupação paralela em encontrar uma coerência geográfica para o estudo ditada pela leitura dos mecanismos de apropriação territorial em presença (vol. 1, p. 19-26)[16].

Ensaios já hoje clássicos como Royal Government in Colonial Brazil de Dauril Alden constituem um ponto de partida confesso deste inquérito (vol. 1, p. 23). Em qualquer caso, o principal feito de Mauricio Abreu resulta de ter sabido acrescentar à literatura disponível sobre o tema uma investigação assente num extenso conjunto de fontes primárias inéditas. A destruição de muitos dos fundos documentais relativos ao período colonial, que sucedeu aquando do incêndio do arquivo da Câmara Municipal do Rio de Janeiro, em 1790, constituía um obstáculo aparentemente intransponível para a concretização desta tarefa. Abreu soube contornar essa dificuldade e reconstituir boa parte do puzzle a partir dos materiais escritos e iconográficos que levantou sobretudo em fundos alternativos: uma ciclópica descida aos arquivos, que abrangeu a documentação colonial sobrevivente no Arquivo da Cidade do Rio de Janeiro, os cerca de 500 livros cartoriais que integram o espólio reservado do Arquivo Nacional da mesma cidade (onde leu dezenas de milhares de escrituras de venda, aforamento ou troca de imóveis) e os largos milhares de “documentos avulsos” da capitania do Rio de Janeiro guardados no Arquivo Histórico Ultramarino de Lisboa; foram identificados ainda inúmeros materiais complementares noutros fundos existentes fora do Brasil, como o Arquivo Nacional da Torre do Tombo e a Biblioteca Nacional de Portugal, em Lisboa, o Archivum Historicum Societatis Iesu, em Roma, e a Bibliothèque nationale de France, em Paris (vol. 1, p. 24-27)[17].


O Rio do açúcar

Dezoito capítulos distribuídos por quatro partes dão forma aos dois volumes de Geografia Histórica do Rio de Janeiro de Mauricio de Almeida Abreu. A Parte I, sobre “O processo de conquista”, centra-se no século XVI e articula a fundação do Rio de Janeiro com a etapa inaugural da colonização portuguesa do Brasil. São revistas questões recorrentes nas historiografias brasileira e portuguesa, como o início do reconhecimento dos litorais, a interpretação das primeiras representações cartográficas, a fixação da toponímia, a chegada da primeira expedição exploradora, a implantação da primeira feitoria e as primeiras décadas da disputa luso-francesa pelo comércio do Atlântico, que haveria de desembocar nos conflitos da década de 1550 pelo controlo da baía de Guanabara (Cap. 1, “Contatos e aproximações”). A malograda aventura da “França Antárctica”, concebida por Nicolas Durand de Villegagnon e tentada por Gaspard de Coligny (1555-1560), merece um capítulo autónomo, que inclui um ensaio sobre o contributo indígena à sustentação do projecto colonial francês e a reconstituição do território da ilha e da fortaleza de Coligny. Este capítulo também retoma as principais conclusões que Luciana de Lima Martins e Frank Lestringant formularam a propósito das imprecisões e manipulações simbólicas do “Brasil francês” na cartografia renascentista[18], assim como aquelas que Lestringant apresentou sobre a função instrumental de La vrai pourtraict de Geneure et du Cap de Frie – o mapa da região da Guanabara esboçado por Jacques de Vau de Claye, em 1579, quando a França refez o sonho de uma implantação duradoura na América do Sul (Cap. 2, “A França Antártica: um território que não foi”)[19]

A conquista portuguesa da baía de Guanabara, ao longo das primeiras décadas do século XVI, e o seu significado no âmbito do processo de colonização do Brasil levam o autor a rever as várias fases e modalidades da participação dos indígenas no estabelecimento das primeiras povoações e engenhos de açúcar, assim como a natureza específica dessas relações no palco da capitania de São Vicente. Envolvendo o plano militar que visou e logrou pôr termo à “França Antárctida”, a conquista e a consolidação do território luso na Guanabara são ainda lidas em consonância com o projecto missionário da Companhia de Jesus e o impulso que os jesuítas deram ao combate à colónia financiada pelos huguenotes no rio de Janeiro. Não sem deixar de anotar várias das dúvidas que permanecem por resolver sobre os sucessos militares do início de 1560 que ditaram a derrota dos franceses (do saldo em vidas humanas do combate aos contornos da participação dos indígenas nessa guerra), Abreu sintetiza, de seguida, os principais pontos que permitem compreender a fundação e as especificidades da cidade real do Rio de Janeiro: a qualidade estratégico-militar do sítio original, a fisionomia desse lugar, as relações com o hinterland e as outras capitanias para o provimento de reforços e mantimentos, a precoce adopção das estruturas sociais e jurídicas portuguesas, a primeira concessão de terras, os primeiros povoadores e as razões locativas que determinaram a transferência da povoação primitiva para o sítio elevado do morro de São Januário, depois chamado do Castelo, que acolheu o seu assento definitivo, em 1567 (Cap. 3, “A conquista da Guanabara”). O complexo tema dos aldeamentos indígenas fluminenses e a importância que tiveram no demorado processo de colonização são analisados no capítulo seguinte, onde também se detalha a progressão do povoamento português do litoral e dos baixos vales dos rios da margem ocidental da baía de Guanabara na direcção do cabo Frio, sucessivamente desafiado pela presença dos tamoios, franceses e goitacás, tal como pelas ambições inglesas e holandesas na costa sudeste do Brasil (Cap. 4, “A submissão do indígena e a consolidação da conquista”).

Nos seis capítulos que compõem a Parte II do seu livro, Mauríco Abreu disseca os agentes, ritmos e conflitos que acompanharam a apropriação do território e a formação da sociedade colonial da capitania fluminense entre a segunda metade do século XVI e o termo do século seguinte. O primeiro aspecto tratado prende-se com a transferência para o Brasil da prática de repartição de terras em regime de sesmaria vigente em Portugal, análise que atende às especificidades deste sistema em solo brasileiro, designadamente pelas implicações resultantes da coexistência de “sesmarias de terras” e de “sesmarias de chão”. Seguindo de perto o que o próprio autor já expusera no artigo “A apropriação do território no Brasil colonial”[20], ensaia-se aqui a periodização da matéria em causa nas terras da Guanabara, junto com a identificação das formas jurídicas, materiais e, finalmente, espaciais que a apropriação adquiriu. Neste caso, a elaboração de seis mapas conjecturais sobre a concessão de sesmarias na capitania real do Rio de Janeiro constitui um auxiliar precioso para a visualização de todo este processo (Cap. 5, “Concessão de sesmarias e expansão do povoamento”).

Confere-se, a seguir, o papel exercido por dois dos protagonistas centrais da fase inicial deste mesmo processo de apropriação e modelação do espaço da colónia, a Câmara do Rio de Janeiro e as ordens religiosas regulares – jesuítas, beneditinos e carmelitas (Cap. 6, “As terras da Câmara e sua ocupação”; Cap. 7, “O crescente patrimônio territorial das religiões”). Um capítulo intitulado “Os conflitos de apropriação territorial” (Cap. 8) oferece uma panorâmica sobre as disputas pela propriedade das terras da Guanabara geradas pela imprecisão das doações e pela ausência quase generalizada de demarcações judiciais. É dado destaque ao litígio territorial que se prolongou por mais de dois séculos envolvendo a Companhia de Jesus e a Câmara, os beneficiários de duas das maiores sesmarias concedidas nas proximidades da cidade pelo seu fundador, Estácio de Sá, em 1565. Na ausência de dados precisos sobre o crescimento demográfico da cidade e capitania do Rio de Janeiro, Abreu busca também reconstituir os ritmos de adensamento populacional verificados nas diversas partes do termo da cidade através de testemunhos como a difusão de capelas e a criação de paróquias e de circunscrições militares no território da capitania durante o século XVII. Dados complementares sobre o progresso dos mecanismos de controlo do território e das populações são recuperados a partir da análise dos escassos testemunhos seiscentistas que reportam a actuação dos juízes da vintena, capitães de estradas e assaltos (“capitães do mato”) e quadrilheiros urbanos, tal como com base nas informações sobre os novos corpos militares constituídos no final do século XVII, no contexto da descoberta do ouro de Minas Gerais (Cap. 9, “As malhas do controle territorial”). O último capítulo desta série retoma as estimativas sobre o crescimento da população da capitania ao longo dos séculos XVI e XVII, ao mesmo tempo que nos concede uma aproximação ao heterogéneo corpo social que a compunha: dos degredados e homiziados que as fontes destacam para os primórdios da colonização do território à “nobreza da terra”, dos oficiais mecânicos aos senhores de engenho e mercadores, passando pelos cristãos-novos, categoria transversal à generalidade das anteriores (Cap. 10, “A formação da sociedade colonial fluminense”).              

Para a Parte III do seu trabalho, Mauricio Abreu propõem-se articular o Rio de Janeiro com o “sistema atlântico”, oferecendo uma ampla perspectiva sobre as relações estabelecidas entre a cidade e a capitania do Rio, Buenos Aires, África e o restante império marítimo português. Análise focada na economia do açúcar e nas sucessivas conjunturas económicas fluminenses, toma como ponto de partida o processo de progressiva incorporação do Rio na rede mercantil já constituída nas capitanias mais antigas, junto com o impulso conseguido pelo estabelecimento de relações comerciais com a cidade platina que decorre da instituição da União Ibérica, em 1580. Uma vez caracterizada a falência do sistema de comércio triangular que unia Angola, as capitanias brasileiras e o Prata, a qual ditou o fim da prosperidade que o Rio conseguira para si nas quatro primeiras décadas do século XVII, analisam-se as consequências da reconquista de Angola (1648) e da fundação da Colónia do Sacramento (1679) no tráfego africano e no contrabando com o Prata. A partir da minuciosa análise de fontes primárias que atrás se sumariou, Abreu prossegue com uma cuidada análise do mundo do açúcar fluminense do século XVII, cujo objectivo final consiste na reconstituição da geografia e da tipologia dos engenhos da capitania, assim como do conjunto da paisagem rural organizada em torno dos complexos agro-industriais açucareiros (Cap. 11, “A inserção do Rio de Janeiro na economia-mundo”; Cap. 12, “O antigo mundo fluminense dos engenhos”). Encerra esta Parte um capítulo que passa em revista os principais conflitos sobrevindos no Rio de Janeiro a partir da terceira década do século XVII e que, ainda e sempre associados à utilização da força de trabalho indígena pelos interesses coloniais e às vicissitudes da legislação indigenista, não deixaram de reflectir quer a parcial ocupação holandesa do Nordeste brasileiro (1630-1654), quer as turbulências do trato africano ditadas pela ocupação de Luanda pelos holandeses, em 1641, quer ainda a entrada das Antilhas no mercado açucareiro, a partir da década de 1650 (Cap. 13, “Turbulências seiscentistas”).              


Morfologias pretéritas

Um dos principais resultados que Mauricio de Almeida Abreu nos oferece em Geografia Histórica do Rio de Janeiro corresponde à referida radiografia da economia do açúcar no Rio que preenche boa parte do capítulo 12, a qual inclui a identificação de 162 engenhos que aí funcionaram entre 1571 e 1700, junto com a respectiva localização e a análise da evolução das suas dimensões – um impressionante conjunto de dados que, entre o mais, obriga a uma reavaliação dos impactos da crise europeia do século XVII na economia regional fluminense[21]. Outro tanto pode ser dito sobre a generalidade das questões associadas ao exercício de reconstituição da morfologia urbana, tema de eleição da Geografia Histórica que Abreu, como vimos, insiste em tratar de forma articulada com o conjunto mais vasto de processos e normas sociais que induzem e conferem sentido à estrutura física da cidade e à respectiva dinâmica ao longo do período considerado. Estas questões vêm agrupadas nos cinco capítulos que integram a quarta e última Parte deste livro, dada sob o título “A cidade de São Sebastião”. 

Desde a década de 1960, um conjunto de estudos de referência permitem realizar uma ideia razoavelmente clara sobre a evolução da forma urbana do Rio de Janeiro entre o momento em que o núcleo original do povoamento se transferiu do sopé dos morros Cara de Cão e Pão de Açúcar para o morro de São Januário/Castelo e a altura em que se iniciou a urbanização da várzea. É o caso dos trabalhos de Eduardo Canabrava Barreiros (1965), Paulo Santos (1968) e Giovanna Rosso Del Brenna (1990, 2001) ou, ainda, do “Curso sobre a fundação da cidade do Rio de Janeiro” publicado na Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (1967)[22]. A compreensão deste processo entronca na discussão mais geral sobre os modelos das cidades coloniais brasileiras e os padrões que o urbanismo português assumiu no território americano, definidos entre a perfeita irregularidade e a perfeita regularidade[23]. Tal análise começou por explorar uma leitura demasiado simplista – e entretanto superada – que forçava a antinomia entre o urbanismo português e o urbanismo castelhano na América. Hoje, a mesma análise tanto tende a sublinhar as preocupações precoces com a ordenação ou a regularização dos espaços urbanos que se detectam no Brasil, como a aplicação – igualmente precoce – de planos ortogonais ou quase-ortogonais, por vezes lidos como reflexo do trabalho executado pelos engenheiros militares durante a dinastia filipina (1580-1640)[24]. Ora, a cidade real do Rio de Janeiro é um dos exemplos emblemáticos de construção urbana que dá a ver um claro traçado regular a partir do momento em que a urbe inicia a ocupação do território situado entre o perímetro amuralhado original, de feição medieval, e a orla da baía de Guanabara[25].       

À semelhança do que ocorre nos restantes capítulos deste livro, Mauricio Abreu não só domina e discute a bibliografia fundamental sobre estas matérias, como retoma algumas das sínteses que o próprio apresentara em anos recentes[26], ampliando o nosso conhecimento sobre a morfologia original do Rio de Janeiro. Com base num notável investimento em investigação histórica, logo o primeiro dos capítulos desta Parte (Cap. 14, “Reencontrando a antiga cidade de São Sebastião”) recolhe os escassos indícios disponíveis relativos ao processo de materialização inicial da cidade a partir de alguns fragmentos de livros de registos de cartas de sesmarias, de cartas de chãos transcritas nos livros de tombo das ordens religiosas e de outra documentação esparsa – nenhuma da qual cartográfica, dado não ter sobrevivido qualquer material deste tipo contemporâneo dos primeiros tempos da cidade. Como adverte, daqui resulta, uma vez mais, um mapeamento acima de tudo conjectural do espaço que se tenta apreender.

Metodicamente, Abreu indaga as características do sítio alcandorado que acolheu o primeiro assentamento da cidade, a geografia dos caminhos que estruturaram a progressiva ocupação da zona baixa, a localização da sesmaria jesuítica – a primeira sesmaria da cidade –, o significado do arcaísmo “trasto” associado ao sistema defensivo, a localização dos baluartes, muros e portas da cidade, assim como a morfologia da “cidade alta”; ao recuperar o processo de distribuição de terrenos e parcelamentos pela área alodial da cidade, percebe que a rápida apropriação da “cidade baixa” foi quase concomitante à ocupação do núcleo situado no alto da colina; anota a origem e a evolução da toponímia e da malha da “cidade baixa” e discute os escassos elementos que permitem elucidar sobre a fisionomia das moradias; destaca o conjunto de disposições legais que condicionaram, desde o início, a hierarquia e o traçado dos arruamentos e das construções; enfim, tomando de empréstimo de Walter Rossa a expressão “urbanismo regulado português” (vol. 2, p. 250), vê nestas últimas disposições um conjunto de normas urbanísticas modernas e razoavelmente rígidas, firmadas no começo da história do Rio de Janeiro pelos governadores e, a partir do século XVII, pela municipalidade.

As principais conclusões desta série de inquéritos aparecem expostas nos três mapas que oferecem outras tantas hipóteses de representação gráfica para a localização do muro e das portas da cidade quinhentista (vol. 2, p. 235, Mapas 17-19), no mapa que procura fixar a mancha urbana no final do século XVI (vol. 2, p. 241, Mapa 20) e naquele que reconstrói o plano urbano do Rio por volta de 1680 (vol. 2, p. 261, Mapa 21). À parte isto, Abreu destrinça das múltiplas referências topográficas e toponímicas dispersas pela documentação consultada os elementos que permitem associar o penoso processo de drenagem da várzea alagadiça e pantanosa, que decorreu durante os séculos XVI e XVII, à construção da forma urbana carioca. O progressivo despovoamento da “cidade alta”, que aconteceu em paralelo à expansão para a proximidade da baía, é descrito no último ponto deste capítulo, com indicação dos sucessivos equipamentos urbanos transferidos do berço original para a cidade nova, com destaque para a casa da Câmara, a Cadeia e a Sé.

Como para o estudo do processo de crescimento e estruturação da generalidade das cidades, também o cabal entendimento da identidade morfológica do Rio de Janeiro e das primeiras fases do seu urbanismo requer a reconstituição dos espaços livres públicos e o modo como estes se articularam com as edificações envolventes. De entre a grande família de espaços urbanos que integra praças, largos, terreiros e adros, os rossios – também designados como campos ou pastos – definem um lugar específico na transição entre a cidade e o espaço rural[27]. Mauricio de Almeida Abreu procede à leitura do modo como decorreu a instituição de rossios no Rio de Janeiro, como foram integrados na vida urbana e como interferiram no processo de produção do espaço carioca. A síntese de tudo isso resulta na elaboração de um novo mapa conjectural, o qual agrupa os rossios dos séculos XVI e XVII (vol. 2, p. 300, Mapa 22) (Cap. 15, “Os rossios da cidade”).      

Segue-se a discussão das transformações operadas na fisionomia da cidade no decorrer do século XVII, a qual, para lá da acção directa ou indirecta da Coroa, destaca o papel determinante que a iniciativa particular reservou para si em todo este processo: a marca impressa pelas ordens religiosas, com a construção de mosteiros e conventos; as igrejas, capelas e ermidas impulsionadas pela devoção popular; as disposições camarárias que condicionaram o alinhamento e normalizaram a largura dos logradouros públicos; a invenção da toponímia urbana, suas lógicas e sortes diferenciadas; as características internas das edificações e os materiais de construção empregues; o aparecimento das primeiras provas de verticalização urbana e a difusão das construções em altura pelos distintos sectores da cidade, tema rematado com a identificação dos poucos casos de residências nobres de que há notícia (Cap. 16, “A construção do espaço urbano no século XVII”).

A estrutura urbana do Rio e o papel preponderante que os mercadores exerceram na cidade durante o século XVII são tratados no penúltimo capítulo deste livro (Cap. 17, “O Rio de Janeiro do século XVII: economia urbana e organização interna”). Nestas páginas, Mauricio Abreu recria o funcionamento das relações campo-cidade, assinalando os interesses envolvidos e os conflitos que geraram, ao mesmo tempo que tenta reencontrar a sua expressão espacial. A análise parte do inventário dos monopólios comerciais sucessivamente estabelecidos e das tensões que estes suscitaram: o monopólio do sal, o contrato para a actividade baleeira, a pesagem do açúcar, o comércio de carnes, para além da especulação praticada com diversas outras mercadorias, como o peixe, o vinho e os escravos africanos. A partir daí, analisa-se a distribuição das funções urbanas no interior do Rio seiscentista, tentando verificar-se a existência, ou não, de um padrão espacial para a presença dos ofícios mecânicos no espaço urbano. As conclusões retiradas a propósito são confrontadas com aquelas que se observam para as residências urbanas dos senhores do engenho e, finalmente, para as residências dos marranos, sempre em busca de ver confirmado se os cristãos-novos reproduziam na cidade a tendência à formação de unidades de vizinhança que apresentavam no campo.

No último capítulo de Geografia Histórica do Rio de Janeiro, Abreu retoma o estudo dos espaços livres públicos onde se realizavam as actividades quotidianas e rituais, tal como a circulação em geral: as ruas, mercados, praças e praias da cidade, os controlos impostos às várias actividades comerciais realizadas nas ruas, a vigilância exercida sobre certos hábitos e comportamentos verificados no espaço colectivo, o lugar do pelourinho e da forca na paisagem urbana, terminando com a exame dos lugares de realização de actividades de carácter mais excepcional, como as festas e as procissões (Cap. 18, “A vida urbana nos espaços coletivos: comércio, controle e festa”). A imagem da “cidade de São Sebastião” que daqui resulta concorda com a impressão geral que o livro veio construindo de uma cidade ainda secundária no contexto colonial, apenas animada nas curtas semanas que mediavam entre a chegada e a partida das frotas do açúcar. 

Não faltará acrescentar que estamos diante de uma obra de fôlego, leitura obrigatória para a compreensão da génese e da forma da que veio a ser a segunda capital do Brasil e, pouco mais de um século depois de fechada a cronologia estudada por Mauricio Abreu, capital efémera do próprio império português (1808-1821). Acresce o bom gosto gráfico dos dois volumes, a qualidade das figuras e o cuidado posto na reprodução dos numerosos documentos escritos, cartográficos e iconográficos que a enriquecem. Diante disto, são mínimos os reparos que anotamos, os quais, pelo menos num caso, traduzem meros lapsos de ordem tipográfica.

Assim, sugerimos que uma próxima edição possa incluir a cartografia das distintas etapas de conquista territorial descritas nos capítulos 3 e 4, desde logo útil para quem se aproxima da história do Rio de Janeiro e do Brasil coloniais sem dispor da capacidade de visualizar de forma automática os cenários em causa. Notamos a necessidade de rever a ortografia moderna na palavra “concelho” no início dos capítulos 5 e 15. Sugerimos também uma maior precisão conceptual a propósito do emprego quase sinónimo dos conceitos de “território” e “lugar” que ocorre no ponto da Introdução onde se definem os objectos espacial e temporal visados pelo trabalho. No mesmo sentido, será útil pontualizar o emprego da expressão “investigação geo-histórica”, que ocorre no ponto da mesma Introdução onde se expõem as opções metodológicas seguidas. Ainda que se depreenda que esta última ocorrência decorra da discussão sobre os termos de referência da Geografia Histórica que procede dos parágrafos anteriores, não só não há como evitar associá-la ao neologismo equivalente adoptado por Fernand Braudel, como é possível ser-se tentado a ler aí um reflexo das propostas de historicização das categorias geográficas apresentadas pela Geohistória contemporânea, tal como estas vêm sendo sistematizadas por autores como Alan Reynaud, Géraldine Djament, Christian Grataloup ou Martine Droulers, por exemplo[28].

O excelente livro que Mauricio de Almeida Abreu nos oferece não esgota nem podia esgotar um tema virtualmente inesgotável. Com o rigor que o caracteriza, o autor assume à partida a fragilidade de todas aquelas reconstituições que têm a apoiá-las um escasso conjunto de provas documentais, boa parte das quais resgatada com o maior dos méritos de arquivos repartidos pelos dois lados do Atlântico, com catalogação deficiente, colecções truncadas e até condições de acesso que testam a resistência do mais empenhado dos investigadores. Mas, por cima de qualquer uma destas contingências, Geografia Histórica do Rio de Janeiro (1502-1700) tanto constrói o mais completo retrato disponível sobre a formação territorial da cidade e do seu hinterland durante o período considerado, como abre novas oportunidades de pesquisa comparada sobre as práticas urbanas adoptadas num conjunto de cidades costeiras do império português cuja génese e evolução tantos aspectos apresentam em comum com as aparentes especificidades do Rio – para além de Lisboa e Porto, desde logo as cidades da Horta, Angra, Funchal e Luanda.      

Notas

[1] Abreu, 1998, p. 88.
[2] Rua & Abreu, 2004, p. 196; Scheibe et al., 2006, p. 198-199.
[3] Abreu, 1970a.
[4] Abreu, 2006a, p. 149-51; Scheibe et al., 2006, p. 198-199.
[5] Bailly, 1998, p. 78-79; Rua & Abreu, 2004, p. 197-200; Scheibe et al., 2006, p. 199-202.
[6] Abreu, 1970b.
[7] Abreu, 1971.
[8] Scheibe et al., 2006, p. 203.
[9] Rua & Abreu, 2004, p. 201-203; Scheibe et al., 2006, p. 202-213.
[10] Abreu, 1987.
[11] Ver, inter alia, Bailly, 1998, p.132-137; Pumain, Paquot & Kleinschmager, 2006, p. 254-256.
[12] Ver, inter alia, Butlin, 1993, p. 222-223.
[13] Rua & Abreu, 2004, p. 208-210; Scheibe et al., 2006, p. 214-223.
[14] Abreu, 1998, p. 92-94.
[15] Ver, inter alia, Brockey, 2008, p. 1-14.
[16] Ver também Conde & Abreu, 2011.
[17] Ver também Rua & Abreu, 2004, p. 210.
[18] Ver Lestringant, 1981, p. 205-256; Martins, 1997, p. 141-155; Martins, 2001.
[19] Lestringant, 1981, p. 237, 243-247. A propósito deste mapa, ver também Mollat du Jourdin & La Roncière, 1984, pl. 61, p. 240-241.
[20] Abreu, 1997.
[21] Sínteses preliminares sobre o mesmo assunto em: Abreu 2006b; Abreu, 2010.
[22] Ver Rossa, 1998, p. 531.
[23] Santos, 1968, p. 50; Pessôa, 2000, p. 74. 
[24] Rossa, 1995, p. 286; Teixeira & Valla, 1999, p. 224-316.
[25] Azevedo, 1998, p. 58-59.
[26] Abreu, 2005; Abreu, 2008.
[27] Ver Teixeira, 2001, p. 9; Vaz, 2001, p. 139-141.
[28] Ver, inter alia, Ciattoni, Beucher & Reghezza, 2005, p. 73-75.


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Ficha bibliográfica:
OLIVEIRA, Francisco Roque de. Abreu, Mauricio de Almeida. Geografia Histórica do Rio de Janeiro (1502-1700). Biblio 3W. Revista Bibliográfica de Geografía y Ciencias Sociales, Universidad de Barcelona, Vol. XVI, nº 924, 25 de mayo de 2011. <http://www.ub.es/geocrit/b3w-924.htm>. [ISSN 1138-9796].