Fragmento de: MONBEIG, P. Leçon inaugurale 6 de novembre de 1952: Conservatoire National des Arts et Métiers, in: THÉRY Hervé; DROULES, Martine. Pierre Monbeig un geographe pionnier. Paris: CREDAL, 1991.
É fácil compreender que o geógrafo não se apóia num fato isolado, como o economista, o sociólogo ou o engenheiro,(...) Partindo da realidade, que é sempre complexa, o geógrafo a compreende primeiramente em sua totalidade. Em seguida, ele se esforça, como o diz o Professor Baulig, para explicar e compreender. Explicar, quer dizer desenrolar , como se desenrola um rolo de papel ou, se se prefere, como se desmonta um mecanismo para ver todas as suas partes.
Mas, totalmente desmontado o mecanismo, é preciso tomar bastante cautela com a maneira como se ajustam as partes, pois é precisamente o ajustamento dessas partes que assegura o funcionamento do mecanismo. Tendo explicado, trata-se agora de compreender , quer dizer, tomar em conjunto os diferentes elementos. Uma linha de estrada de ferro, por exemplo, não é somente o traçado da via, a velocidade dos trens, nem a lista de cidades que ela dessela, nem o número de viajantes e a tonelagem das diversas mercadorias que ela transporta. É tudo isso junto, mais os capitais que asseguram seu funcionamento, as atividades que ela suscita, as concorrências que ela sofre e outras coisas mais. O economista limitar-se-ia ao estudo de alguns desses aspectos, o técnico a outros, o especialista em questões demográficas a outros. O geógrafo os toma na sua totalidade e os considera como um todo no qual todas as partes são solidárias.
O próprio do estudo geográfico é, pois, constituído por conjuntos complexos, de “combinações geográficas”, para retomar a fórmula do Professor Cholley. Mas essas combinações têm um substrato sólido: a Terra. E a Terra não quer dizer somente a superfície acidentada do solo, mas também o subsolo, as plantas, o clima, o meio biológico. É necessário ver como e por que existe determinada combinação geográfica num ponto preciso do globo. Ela ocupa uma certa parte do espaço; ela se impõe ao meio natural e ela é ao mesmo tempo conseqüência dele. Ela se transforma sem cessar , pois tudo o que vive é dinâmico; é preciso ver também como esse complexo geográfico evolui e por que causas.
Perguntar-se-á, sem dúvida como reconhecer esses complexos geográficos. Se é fácil com nossos instrumentos científicos mensurar os fenômenos físicos ou químicos os mais miúdos, como ver um complexo? O primeiro ponto do método geográfico, como já mostrei nos meus Ensaios de Geografia Humana (São Paulo, 1940), consiste em abrir os olhos sobre a paisagem. O geógrafo deve saber olhar, e aí onde um olho não advertido vê apenas linhas e cores, ele compreende a significação profunda, o valor humano da paisagem. Mas, por mais completa de ensinamentos que seja uma paisagem, ela não é tudo e, para melhor compreendê-la, é necessário, e este é o segundo ponto de nosso método, poder ultrapassá-la. Não é o suficiente, diante de um cenário industrial, como o da periferia de Paris ou de São Paulo, falar da fumaça das chaminés, enumerar as fábricas e descrever o vaivém das massas operárias. É necessário ainda perguntar-se quais estruturas econômicas estão associadas a essa paisagem das quais elas são ao mesmo tempo causa e conseqüência.
É fácil compreender que o geógrafo não se apóia num fato isolado, como o economista, o sociólogo ou o engenheiro,(...) Partindo da realidade, que é sempre complexa, o geógrafo a compreende primeiramente em sua totalidade. Em seguida, ele se esforça, como o diz o Professor Baulig, para explicar e compreender. Explicar, quer dizer desenrolar , como se desenrola um rolo de papel ou, se se prefere, como se desmonta um mecanismo para ver todas as suas partes.
Mas, totalmente desmontado o mecanismo, é preciso tomar bastante cautela com a maneira como se ajustam as partes, pois é precisamente o ajustamento dessas partes que assegura o funcionamento do mecanismo. Tendo explicado, trata-se agora de compreender , quer dizer, tomar em conjunto os diferentes elementos. Uma linha de estrada de ferro, por exemplo, não é somente o traçado da via, a velocidade dos trens, nem a lista de cidades que ela dessela, nem o número de viajantes e a tonelagem das diversas mercadorias que ela transporta. É tudo isso junto, mais os capitais que asseguram seu funcionamento, as atividades que ela suscita, as concorrências que ela sofre e outras coisas mais. O economista limitar-se-ia ao estudo de alguns desses aspectos, o técnico a outros, o especialista em questões demográficas a outros. O geógrafo os toma na sua totalidade e os considera como um todo no qual todas as partes são solidárias.
O próprio do estudo geográfico é, pois, constituído por conjuntos complexos, de “combinações geográficas”, para retomar a fórmula do Professor Cholley. Mas essas combinações têm um substrato sólido: a Terra. E a Terra não quer dizer somente a superfície acidentada do solo, mas também o subsolo, as plantas, o clima, o meio biológico. É necessário ver como e por que existe determinada combinação geográfica num ponto preciso do globo. Ela ocupa uma certa parte do espaço; ela se impõe ao meio natural e ela é ao mesmo tempo conseqüência dele. Ela se transforma sem cessar , pois tudo o que vive é dinâmico; é preciso ver também como esse complexo geográfico evolui e por que causas.
Perguntar-se-á, sem dúvida como reconhecer esses complexos geográficos. Se é fácil com nossos instrumentos científicos mensurar os fenômenos físicos ou químicos os mais miúdos, como ver um complexo? O primeiro ponto do método geográfico, como já mostrei nos meus Ensaios de Geografia Humana (São Paulo, 1940), consiste em abrir os olhos sobre a paisagem. O geógrafo deve saber olhar, e aí onde um olho não advertido vê apenas linhas e cores, ele compreende a significação profunda, o valor humano da paisagem. Mas, por mais completa de ensinamentos que seja uma paisagem, ela não é tudo e, para melhor compreendê-la, é necessário, e este é o segundo ponto de nosso método, poder ultrapassá-la. Não é o suficiente, diante de um cenário industrial, como o da periferia de Paris ou de São Paulo, falar da fumaça das chaminés, enumerar as fábricas e descrever o vaivém das massas operárias. É necessário ainda perguntar-se quais estruturas econômicas estão associadas a essa paisagem das quais elas são ao mesmo tempo causa e conseqüência.