25 de nov. de 2009

Resenhas: Territórios alternativos

Territórios Alternativos
ROGÉRIO HAESBAERT
Editora Contexto/Eduff,2002

Há autores e textos que atravessam o tempo e as tendências com o poder do testemunho e da criatividade a um só tempo críticos, engajados e independentes. Rogério Haesbaert e seu novo livro servem de exemplo. Trata-se de uma coletânea na qual o autor, professor do Departamento de Geografia, da Universidade Federal Fluminense, onde leciona e orienta alunos nos Cursos de Graduação e Pós-Graduação em Geografia, cobre o período de 1987 a 1998, reunindo alguns dos textos produzidos e publicados em diferentes fontes nestes quase dez anos marcados por intensas transformações na geografia em todo o mundo.

Aqui encontram-se os textos de seu posicionamento desde a (chamada) Geografia Crítica à Geografia Cultural, numa reunião bastante significativa de sua presença e produção na vida intelectual de geografia brasileira. Bem como todos os temas importantes que de uma corrente à outra os geógrafos foram chamados ao debate. E têm um certo sabor de polêmica. O que mostra um autor debatedor e atento.

São oito textos e uma entrevista, onde a modernidade e a pós-modernidade, o lugar e a rede, a regionalização e a globalização, a mudança e a permanência, a territorialização e a desterritorialização, confrontados ao tema da identidade, se aprofundam em cada texto, no estilo fluído e elegante que tornaram conhecidos e procurados os trabalhos de Rogério.

Os quatro primeiros textos mapeiam o debate da modernidade e pós-modernidade, desfilando posições e autores e seu cruzamento com o momento da Geografia. O quinto é um belo texto sobre escala na Geografia e na História da escola de Braudel, em boa hora publicado em livro por Rogério. O sexto e sétimo discutem de modo mais específico o tema do território. O oitavo trabalha onde no diálogo da identidade e a poesia, a Geografia faz cruzar razão e sensibilidade enquanto momentos e categorias. O livro fecha com a entrevista, onde uma relação mais pessoal autor-leitor se coloca. Uma análise minuciosa percorre do positivismo ao marxismo e à fenomenologia, pelos quais o autor transita habilmente, numa relação muito profícua entre a Geografia, a Filosofia e o Pensamento Social. Além disso, percorre todo o livro uma cultura erudita do pensamento geográfico que credencia e avaliza a qualidade do livro.

É de lamentar que não se possa ver na geografia brasileira ainda o cotidiano do diálogo e da polêmica a que Rogério e autores de outros tantos livros se lançam. E não são poucos. Talvez porque a geografia brasileira pouco tenha conhecido a riqueza da produção em livros e revistas que hoje vemos. Que nunca tivemos tantos periódicos, veículos de uma quantidade tão grande de ensaios, como neste momento temos no país, isto é vero. O que põe em dúvida uma hipótese de a responsabilidade da desproporcionalidade dos intercâmbios e dos debates ser do dia-a-dia esterilizante que o momento por que a universidade brasileira ultimamente passa impõe aos que a ela se dedicam. Sobrecarregados pela pilha de relatórios e reunismo que a própria crise universitária os obriga, pouco tempo restaria além da escrita e divulgação da produção, ainda assim vasta, aos acadêmicos, nada ou quase nada lhes sobrando para os intercâmbios e os debates. Um momento reduzido aos encontros acadêmicos, nem sempre adequadamente apropriados para os termos.

Oxalá a insistência e a publicação de obras de excelência, como o livro e a produção de Rogério Haesbaert, em breve prevaleçam. O livro está aí para ver/ler.
(Ruy Moreira)

Fonte: http://www.uff.br/geographia/ojs/index.php/geographia/article/view/95/92

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