___________++++ ________
Faz quase três anos que ingressei como professora do quadro efetivo da
UFRJ. Considero-me uma professora novata e essa é a primeira vez que
irei enfrentar um período de greve, agora ocupando um novo lugar social.
Essa também é a primeira vez que quase a
totalidade de nossos alunos irá encarar uma greve. Com esse relato, que
compartilho com vocês colegas, procuro narrar e, dessa forma, tentar
organizar algumas das reflexões e sentimentos diante dessa nova
experiência. Minha intenção é principalmente buscar apoio e, quem sabe,
oferecer algum para o enfrentamento dessa greve que se configura. Hoje,
em minha trajetória recente como professora da UFRJ, o que tenho
observado são os espaços coletivos de luta esvaziados, como as
assembleias organizadas pelo nosso sindicato. Em uma universidade que
enfrenta um evidente processo de renovação de seus quadros, sempre me
pergunto porque tantos dos meus colegas, que considero grandes
professores e pesquisadores, não estão ai, porque eu mesma não me sinto
motivada a participar de forma mais orgânica e quais serão as
consequências desse hiato para o futuro da universidade. Será que o
espaço do coletivo sindical na universidade parece não ser valorizado
por conta do volume de trabalho que somos obrigados a dar conta? Pela
lógica produtivista que cada vez mais orienta nosso trabalho? Em função
das formas operantes muitas vezes acusadas de caducas de nossos
dirigentes sindicais? De nossa relação com o trabalho como uma esfera de
atuação e realização individual e imediata e não como produção social e
histórica? Em função de nossa crença na importância do conhecimento e
no valor de nossas pesquisas que nos impele a acreditar que a defesa
pela universidade pública se faz eminentemente na cotidianidade de
nossas ações engajadas e compromissadas com a pesquisa? Por que não nos
reconhecemos como trabalhadores que precisam enfrentar as forças de
exploração do sistema capitalista? Por que nosso compromisso com o
futuro e com o outro está relegado apenas ao plano do discurso?
Vejo que na atualidade enfrentamos, no trabalho na universidade, muitas dificuldades, todavia, considero que esse quadro poderia ainda ser mais severo se não fosse a resistência de professores organizados em um coletivo durante o período FHC. Como aluna da UFRJ, que fui durante a gestão PSDB, recordo-me, por exemplo, do quanto eram escassas ou ausentes bolsas e editais para pesquisa e extensão. Como eram carentes às políticas de auxílio estudantil. Da ausência de concursos públicos, do arroxo salarial dos professores e das greves frequentes e longas dos docentes na luta por salários dignos e melhores condições de trabalho. A universidade de hoje não é resultado apenas da ação de governantes (mais sensíveis ou menos a importância da universidade pública de qualidade e democrática), mas da luta política entre os atores sociais. Assim, a luta empreendida por um coletivo organizado não pode ser invisibilizada, desqualificada ou mitificada, mas deve configurar-se como objeto de reflexão crítica. Afinal, se acreditamos que é nesse espaço coletivo que temos mais força de resistência e de ação, parece que o momento histórico exige a reflexão acerca do porque do seu enfraquecimento e do que é preciso fazer para reverter esse quadro. Como cultivar as sensibilidades a seu favor? Acredito que a defesa pela carreira docente e pela universidade pública se realiza, sim, no nosso trabalho individual ancorado no compromisso com nossas ações de ensino, pesquisa, extensão e administração, mas também no reconhecimento de que as condições de realização dessas ações não são dadas e nem naturais, pelo contrário, são objetos de luta política. Apesar de considerar pertinentes e legítimas, não me parece prudente apoiarmos nossas posições favoráveis ou contrárias à greve no plano de nossas questões individuais. É inexorável que a defesa pela universidade pública, de qualidade e democrática nos exija sacríficos pessoais em alguma medida. Em função disso, também, é tão importante que não nos sentemos sozinhos, que não estejamos isolados, que não permaneçamos calados.
Vejo que na atualidade enfrentamos, no trabalho na universidade, muitas dificuldades, todavia, considero que esse quadro poderia ainda ser mais severo se não fosse a resistência de professores organizados em um coletivo durante o período FHC. Como aluna da UFRJ, que fui durante a gestão PSDB, recordo-me, por exemplo, do quanto eram escassas ou ausentes bolsas e editais para pesquisa e extensão. Como eram carentes às políticas de auxílio estudantil. Da ausência de concursos públicos, do arroxo salarial dos professores e das greves frequentes e longas dos docentes na luta por salários dignos e melhores condições de trabalho. A universidade de hoje não é resultado apenas da ação de governantes (mais sensíveis ou menos a importância da universidade pública de qualidade e democrática), mas da luta política entre os atores sociais. Assim, a luta empreendida por um coletivo organizado não pode ser invisibilizada, desqualificada ou mitificada, mas deve configurar-se como objeto de reflexão crítica. Afinal, se acreditamos que é nesse espaço coletivo que temos mais força de resistência e de ação, parece que o momento histórico exige a reflexão acerca do porque do seu enfraquecimento e do que é preciso fazer para reverter esse quadro. Como cultivar as sensibilidades a seu favor? Acredito que a defesa pela carreira docente e pela universidade pública se realiza, sim, no nosso trabalho individual ancorado no compromisso com nossas ações de ensino, pesquisa, extensão e administração, mas também no reconhecimento de que as condições de realização dessas ações não são dadas e nem naturais, pelo contrário, são objetos de luta política. Apesar de considerar pertinentes e legítimas, não me parece prudente apoiarmos nossas posições favoráveis ou contrárias à greve no plano de nossas questões individuais. É inexorável que a defesa pela universidade pública, de qualidade e democrática nos exija sacríficos pessoais em alguma medida. Em função disso, também, é tão importante que não nos sentemos sozinhos, que não estejamos isolados, que não permaneçamos calados.
Mariana Cassab
(Professora da Faculdade de Educação da UFRJ)
Um comentário:
Há um tendência trágica que vem se configurando, pelo menos nos útlimos 15 a 20 anos: um esvaziamento dos espaços da política. Ninguém faz política numa prática individual. A política é, por definição o exercício do encontro, da troca, do debate e do dissenso. A aceleração do tempo, o império das incertezas, da efemeridade, marcas do mundo atual, tem nos conduzindo a exarcebação do indivíduo e do individualismo. Questões pessoais e individuais teremos sempre. Mas são as práticas coletivas que nos possibilitam a construção de algo comum, um projeto coletivo. A defesa da universidade é a defesa da política. Viagens marcadas, férias planejadas, tudo isso pode ser replanejado. Mas o quanto se perde e quantos perdem se perdemos nossas universidades e escolas? O quanto se perde e quantos perdem se perdemos a capacidade de sermos indivíduos sociais e políticos?
Nosso pai, também ele um professor da universidade pública, um dia escreveu: "Não podemos deixar de fazer política e estimular para que mais pessoas façam política. Quando estamos acreditando em propostas concretas, corremos o risco de transformá-las de meios em fins. O fim, como já sabiam os gregos, é a vida na polis. É a política. E esta é múltipla, com várias dimensões e direções. Ela é por natureza cosmopolita e universal. Esta dimensão do universal precisa estar presente, para que não haja a substituição da política por um propositivismo ingênuo, para quem assume, mas cínico para quem o estimula. Não podemos perder de vista que uma das grandes cartadas do neoliberalismo é justamente sufocar a dimensão política, juntamente com todos os mecanismos de sua realização, acumulados no processo civilizatório" (Prof. Dr. Paulo Roberto C. Lopes).
Sigo em seus ensinamentos!
Postar um comentário