APRESENTAÇÃO
O período entre 1950 a 1970 é marcado por intenso movimento de crítica e renovação do pensamento geográfico no mundo e no Brasil. Orientada no início para o positivismo como fundamento do discurso geográfico existente – neste livro designado geografia clássica –, paulatinamente a crítica descobre no processo histórico da acumulação primitiva e na abstratividade do valor que vem com ele as origens dos problemas que se busca resolver.
No Brasil o movimento expressou-se por um elenco de obras das quais selecionamos sete – as de David Harvey, Neil Smith, Massimo Quaini, Jean Tricart, Milton Santos, Yi-Fu Tuan e Yves Lacoste – para referências de nossa análise. É certo que tratase de um critério de escolha do autor. E também é certo que é controverso o conceito de renovação aqui usado. Já foi dito por alguém que o tradutor frequentemente trai a obra que traduz. O mesmo se pode dizer do analista de ideias. É inevitável que a crítica confunda as ideias que analisa com as suas próprias. E a tal ponto que o leitor já não sabe o que é da obra e o que é do analista. Isto vale para os critérios de escolha.
Mas é a reflexão sobre as ideias, críticas e soluções desse período, mesmo que limitada a essas sete obras e autores, o propósito deste volume que o leitor tem nas mãos.
As correntes teóricas da geografia clássica que analisamos no volume 1 são aqui complementadas com a análise das novas correntes. Uma comparação sistemática é feita das ideias novas com as velhas, de modo a permitir ao leitor acompanhar e traçar seu próprio juízo sobre o movimento da renovação. Para isto, completa-se o painel da evolução histórica da geografia francesa, trazendo-a até o período dos anos 1950-1970, e acrescenta-se o da geografia norte-americana e da geografia alemã, além do quadro evolutivo da geografia brasileira até os anos 1960. Não sendo um livro de história do pensamento geográfico, mas de epistemologia, este quadro de história da evolução do pensamento francês, norte-americano, alemão e brasileiro,em sua fase de formação e amadurecimento, visa apenas oferecer ao leitor o essencial do painel necessário ao acompanhamento do trajeto analítico da renovação das ideias. As obras historiográficas do pensamento geográfico que usamos como referência estão na bibliografia.
Com o intuito de abrigar o espectro mais amplo do movimento da renovação tal como ocorreu no mundo, mas visto a partir de sua ocorrência no Brasil, o livro foi dividido em quatro partes. A primeira parte analisa o momento de auge da geografia clássica e apresenta as primeiras críticas que levam à necessidade de sua mudança nos Estados Unidos e na França. A segunda parte oferece o resumo crítico das sete obras que escolhemos para apoio da análise do movimento renovador, buscando-se reproduzir pura e simplesmente a ideia de seu autor, a partir do que entendemos por seu núcleo lógico. A terceira parte traça a síntese da teoria que cada autor oferece em seu livro como alternativa às teorias clássicas, dando-se ênfase à sua estrutura discursiva e procurando-se pontuar as ideias na forma que permita ao leitor ao tempo que conhecê-las em sua originalidade, compará-las entre si e com as teorias dos clássicos. A quarta parte, por fim, faz o balanço avaliativo da renovação propriamente, analisando-se seus pontos de avanço e suas teses.
Este volume completa-se com um terceiro, inteiramente dedicado à geografia brasileira desde o seu período de maturidade nos anos 1940-1950 até os dias de hoje.
Ruy Moreira, 2009.
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